Uma sala limpa é um espaço de trabalho onde as partículas suspensas no ar são controladas para evitar a contaminação dos produtos

Salas limpas: como eliminar a contaminação

19 jul 2021

As salas limpas ou salas brancas nascem da necessidade de indústrias como a farmacêutica, alimentar ou química de eliminar as partículas que estão suspensas no ar para evitar a contaminação dos seus produtos. Esta contaminação poderia alterar a qualidade da mercadoria ou causar infeções, o que representaria sérios riscos para a saúde, económicos para a empresa e de reputação corporativa.

Por isso, empresas de determinados setores devem ter salas limpas, também conhecidas como salas brancas, salas esterilizadas ou, em inglês, cleanrooms. São espaços projetados especificamente para permanecer em certas condições ambientais e manter um nível nulo de contaminação. Para isso, é obrigatório que a conceção e construção destas salas cumpram as normas de utilização. Ao mesmo tempo, é essencial realizar tarefas regulares e muito rigorosas de limpeza e desinfeção.

Neste artigo, definiremos o que são as salas limpas, como são projetadas, quais são as suas aplicações e como construí-las num armazém.

O que é uma sala limpa

A sala limpa é um local de trabalho limpo e esterilizado, onde os níveis de higiene do ar, pressão, temperatura, humidade e luminosidade são rigorosamente controlados, dentro dos limites determinados pela regulamentação em vigor. Na sala, diversos processos e operações são realizados com segurança, excluindo qualquer tipo de contaminação dos mesmos.

Este tipo de instalação deve ser construída e projetada especificamente e possuir equipamentos adequados (sistemas de ventilação HEPA, chuveiros de ar, portas SAS, etc.). Apenas o pessoal autorizado pode aceder à sala limpa para realizar as tarefas relevantes, sem expor a mercadoria a agentes patogénicos que que as possam contaminar.

Aplicações das salas limpas

O conceito de sala limpa originou-se em salas de cirurgia de hospitais. É claro que para a realização de intervenções cirúrgicas é imprescindível ventilar adequadamente esses espaços, esterilizar os equipamentos utilizados e aplicar rígidas normas de higiene.

O passo seguinte foi a adoção de salas limpas em determinadas indústrias, neste caso para manter os níveis de contaminação sob controlo, algo fundamental para garantir a segurança dos artigos ali produzidos. Assim, o seu uso espalhou-se por diversos setores: alimentação, saúde e tecnologia, entre outros.

A presença de microrganismos no ambiente pode alterar as propriedades de certos produtos. Por exemplo, no caso dos alimentos (sejam carnes, peixes, laticínios, vegetais ou pré-cozidos), pode representar um risco à saúde das pessoas, causando intoxicações e infeções.

Regulamentação sobre salas limpas

Controlar e minimizar os níveis de contaminação numa sala limpa não é uma tarefa fácil e requer um projeto muito preciso do espaço. Vários aspetos devem ser respeitados: desde as especificações técnicas para o seu correto funcionamento (os filtros HEPA são fundamentais aqui), passando pelas regulamentações de construção ou os equipamentos necessários, até os fluxos de pessoal e de mercadorias.

No processo de conceção e construção, duas normas são aplicadas cujos critérios determinam como uma sala limpa deve ser:

  • GMP (Boas Práticas de Fabricação ou, em inglês, Good Manufacturing Practices). É uma regulamentação internacional sobre a fabricação de medicamentos, cosméticos ou alimentos em ótimas condições. Na Europa, é regulamentado pelo Regulamento 1223/2009 do Parlamento Europeu e do Conselho. Para o seu cumprimento, é necessário não só garantir a limpeza do ar, mas também que a sala limpa tenha uma boa distribuição de temperatura, iluminação adequada e proteção contra incêndios. Ao mesmo tempo, devem ser usados materiais estéreis e as superfícies onde as operações são realizadas devem ser assépticas.
  • ISO 14644. É uma norma internacional desenvolvida pela International Organization for Standardization (ISO) em que a higiene do ar em salas limpas é garantida. Esta norma classifica as salas em nove categorias, estabelecendo limites máximos de partículas no seu interior. A classificação pode ser mais ou menos restritiva, dependendo da indústria. De apenas 0,2 micrómetros de partículas por metro cúbico de ar (aeroespacial, farmacêutica ou hospitalar) a 293.000 micrómetros. O objetivo principal da construção de uma sala limpa é minimizar a criação, retenção e introdução de partículas poluentes nesse espaço.

Conceção e construção de uma sala limpa

Desenhar uma sala limpa consiste em decidir como será a distribuição do espaço, como serão as portas, janelas ou o piso, bem como a filtragem e os acessos. Neste processo, deve-se levar em consideração o uso a que se destina a sala limpa e as condições externas.

Os materiais utilizados para construir as salas limpas devem ser de qualidade superior aos utilizados na execução de qualquer outro tipo de construção. A razão é que estes materiais devem atender a uma série de condições: durabilidade, resistência física e química, facilidade de limpeza e bom comportamento contra incêndio.

A norma ISO 14644 levanta algumas considerações em relação à estrutura da sala limpa:

  • Divisórias e tetos. Devem ser construídos com painéis sanduíche, que são painéis compostos por duas faces externas, geralmente de chapa de aço galvanizado, e um núcleo interno que confere rigidez (e concede ao painel qualidades adicionais, como bom comportamento contra fogo e bom isolamento térmico). A união dos diferentes painéis deve ser protegida com precisão para evitar a passagem de microrganismos, o acúmulo de poeira e facilitar a limpeza.
  • Portas e janelas. As portas também devem ser feitas com painéis isolantes do tipo sanduíche e as janelas com vidros duplos de segurança.
  • Pisos. Podem ter acabamentos diferentes, dependendo do fluxo de movimentos existente na sala. O ideal é que sejam lisos para evitar a acumulação de sujidade, sejam fáceis de limpar e sejam estáveis contra o ataque de microrganismos.
  • Iluminação. Devem ser usadas lâmpadas fluorescentes neutras de luz branca.

A seguinte etapa no projeto de uma sala é avaliar a filtragem, um dos critérios essenciais para salas limpas. O ar que entra nesta sala lacrada é filtrado para eliminar as partículas suspensas e é renovado várias vezes ao dia para evitar que gere pó. Para tanto, são utilizados filtros HEPA, constituídos de fibras de vidro capazes de reter microrganismos.

Da mesma forma, as salas limpas devem ser climatizadas para que o processo de fabricação seja correto, criando boas condições de trabalho para o pessoal e minimizando qualquer risco de contaminação cruzada.

Finalmente, é altamente recomendável a instalação de um sistema SAS (Security Airlock System), uma pré-câmara composta por duas portas rápidas (uma delas abre para a câmara e a outra para o exterior) que nunca se abrem ao mesmo tempo. Com este sistema, mudanças repentinas de temperatura e pressão são evitadas cada vez que que se entra na sala limpa.

Um SAS (Security Airlock System) consiste em duas portas rápidas que nunca se abrem ao mesmo tempo para evitar mudanças repentinas de temperatura ou pressão
Um SAS (Security Airlock System) consiste em duas portas rápidas que nunca se abrem ao mesmo tempo para evitar mudanças repentinas de temperatura ou pressão

A importância da limpeza nas salas limpas

Após a fase de conceção e construção da sala limpa, a sua manutenção é igualmente importante. Um requisito básico nas salas brancas é a limpeza. É obrigatório controlar a limpeza do pessoal e dos materiais. Para isso, os operadores devem estar devidamente formados e cientes da importância desse ponto. Devem vestir-se com roupas desenhadas especificamente para reter os contaminantes que a pele e o corpo geram naturalmente e, em alguns casos, devem usar redes de cabelo, luvas e máscaras.

Os acessos são outro dos pontos-chave das salas limpas, pois é onde existe o maior risco de entrada de partículas. Para minimizar esse risco, são instalados chuveiros de ar para os trabalhadores. Esses são recintos desenhados para eliminar os germes que acompanham as pessoas antes de entrarem nas salas limpas.

Salas limpas no armazém

No mundo da logística, o conceito de sala limpa tem uma aplicação muito clara: câmaras de congelação e refrigeração. São câmaras isoladas para evitar a transmissão de energia calorífica. O frio é um dos métodos mais comuns para a conservação de produtos (principalmente alimentos ou medicamentos) por um determinado período.

Para garantir o isolamento térmico de uma câmara, as paredes, tetos, pisos e portas devem ser construídos com materiais resistentes à passagem de energia. Além disso, devem ser instalados compressores e evaporadores na parte superior do edifício. O objetivo principal é manter a temperatura estável durante todo o processo logístico e eliminar os pontos críticos que podem quebrar a cadeia de frio dos produtos.

É comum construir câmaras autoportantes que operam em temperatura controlada. São edifícios cuja estrutura é constituída pelas próprias estantes metálicas, sobre as quais são fixados os painéis, paredes verticais e telhado. Este tipo de construção ocupa apenas o espaço necessário para maximizar a capacidade de armazenagem. Uma das suas principais vantagens é a redução do custo energético de manter a instalação em baixas temperaturas constantemente.

Salas limpas e armazéns automatizados

Na logística dedicada à temperatura controlada, a automação está a ganhar força. É uma solução que maximiza a capacidade de armazenagem e, ao mesmo tempo, proporciona total controlo das condições de manuseio do produto. Transportadores e transelevadores proporcionam um movimento contínuo e seguro da mercadoria. Tudo isso melhora os tempos e minimiza o manuseio manual de mercadorias (e riscos associados).

Os sistemas de armazenagem e transporte automáticos mais comuns em câmaras de congelação ou refrigeração são os seguintes:

  • Transportadores industriais: substituem o equipamento de manuseio tradicional e movimentam os produtos automaticamente. Os transportadores de aço inoxidável são especialmente adequados para este tipo de câmara, pois são altamente resistentes à corrosão.
  • Transelevadores: em cada corredor, um transelevador encarrega-se de movimentar as mercadorias desde as posições de entrada do armazém até o local correspondente. As estantes podem ser de simples ou dupla profundidade.
  • Sistema Pallet Shuttle: a operação é totalmente automática, pois possui um carro motorizado que executa a movimentação da mercadoria. É um dos sistemas de compactação mais eficientes. A sua utilização significa um aumento da produtividade, proporcionando um maior número de ciclos.
  • No campo do software, a implementação de um sistema de gestão de armazém (SGA), como o Easy WMS da Mecalux, contribui para aumentar a produtividade de um armazém automatizado. É o cérebro que governa todos os elementos que interagem numa instalação logística, desde os equipamentos de manuseio até as operações para gerir os produtos com eficiência.
Os transportadores de aço inoxidável são muito resistentes à corrosão

Os transportadores de aço inoxidável são muito resistentes à corrosão

Controlo, limpeza e segurança

Empresas de setores como o alimentar, farmacêutico e químico são obrigadas a utilizar salas limpas para produzir ou tratar os seus produtos com segurança. Estas instalações são isoladas para garantir a limpeza do ar e evitar a entrada de partículas contaminantes nestes espaços que podem prejudicar ou deteriorar a qualidade da mercadoria.

No setor de logística, uma instalação totalmente isolada corresponde a uma câmara de refrigeração ou congelação. Os produtos que devem permanecer com temperatura controlada são armazenados ali, portanto, o isolamento térmico é essencial para manter o frio.

A Mecalux tem uma longa história no desenvolvimento deste tipo de armazém para empresas dos setores alimentar, químico ou farmacêutico. Vejamos três exemplos:

  • Bem Brasil: este fabricante de batata pré-frita congelada equipou a sua câmara de congelação (-30ºC) com o sistema automático Pallet Shuttle que proporciona uma capacidade de armazenagem de mais de 33.000 paletes. A empresa optou por este sistema de compactação devido à sua adequação para produtos de consumo massivo com grande volume de paletes por referência.
  • Schaal Chocolatier: a empresa líder na produção de bombons de chocolate na França possui um armazém automático composto por cinco corredores com estantes de simples profundidade que oferecem capacidade para 6.200 paletes. Dos cinco corredores, quatro trabalham a 14ºC e o quinto a 5ºC. Os produtos acabados, produtos semiacabados, matérias-primas, embalagens e utensílios necessários a cada dia são depositados nas estantes.
  • Takeda: a empresa farmacêutica Takeda construiu um armazém autoportante automático com capacidade para 6.584 paletes. O armazém está equipado com um sistema de controlo de temperatura e humidade do ar que mantém a temperatura entre 16 e 24ºC e evita que o nível de humidade ultrapasse 70%.

Se estiver a considerar a construção de uma sala limpa no seu armazém ou uma solução de automação a frio, não hesite em nos contactar. Vamos analisar a sua situação e ajudá-lo a identificar a melhor solução.